8/05/2007

McClane, Optimus Prime, Monstro do Fosso, Ra-ta-tui

"Mê vê uma inteira pro Duro de Matar". E eu que achava que nunca mais uma frase dessas... mas quem sabe do que essa americanada ainda é capaz? Duro de Matar 4.0 (2007) é bem decente, tirando o mofo aqui e ali e aquele cheiro teimoso de produto genérico. Se Len Wiseman não é nenhum John McTiernan, o tal terrorismo virtual rende umas partes boas, como a mixagem com discursos de vários presidentes dos EUA (primor de edição) e outros momentos que sugerem um algo mais (isso vindo de um blockbuster). Pena que a ação é sem sentido demais, e o filme acaba ultrapassando a fronteira da burrice umas quantas vezes (agora que não vejo Underworld MESMO).
Nada que diminua o carisma do McClane, claro. E é bom esse empresário do Bruce Willis, heinhôôôô...! Sucesso de TV na Gata e o Rato, papando a Demi Moore por uns bons tempos, com pelo menos dois filmes perfeitos no currículo (Pulp Fiction e o primeiro Die Hard), outros quase-quase (Sin City, Os 12 Macacos, Nobody's Fool, os dois com o Shyamalan), sempre com alguma coisa interessante por estrear (em breve, Fast Food Nation e Planet Terror num cinema perto de você) e ainda com tempo pra tocar o terror na bandidagem, Willis podia estar no próximo Pan. Viagra neles! Nota 7,5.

Assistir a Treze Homens e um Novo Segredo (2007) é enxergar meu pai vendo um daqueles quadros da Praça é Nossa ou qualquer mongolice com Ronald Golias ou o Márcio Canuto. A gente acompanha a função com um sorriso bobo constante, parece que aqueles caras já são amigos de anos e a piadinha que vier, vem bem. É Soderbergh em estado de graça, assumindo o papel de Blake Edwards moderninho, com mais uma trilha feladaputa de David Holmes, dentes e ternos nos trinques e a fotografia estourando que ela só. Agradável também o Al Pacino, que amo de paixão mas, vamos combinar, de uns anos pra cá não tá dando, hein? Sua participação segue a canastrice de luxo do Andy Garcia no outro capítulo, mas Pacino é Pacino; ainda que "agradável" seja um insulto pra quem fez Um Dia de Cão. Ocean's Fourteen com Dustin Hoffman? Fifteen com De Niro? Pago pra ver (ou então que alguma viv’alma o faça de novo). Nota 8.

Como assim, então numa animação não interessa o diretor? Shrek Terceiro (2007) não é uma meeeeerda, apenas mais uma máquina de vender McLanches para infelizes, a.k.a. crianças bem pequenas e que ainda não sabem como isso tudo podia ser bem mais engraçado. Quem é esse Chris Miller que não consegue criar uma única gag que eu me lembre? E qual personagem novo tem graça, me diz?! Cadê os peidos na lama, cadê Pinóquio de calcinha, cadê passarinho explodindo? Bosta. O ogro se vendeu. Nota 6.

Pra vocês verem que direção é tudo, no gênero que for, basta conferir a belezinha que é Ratatouille (2007). Brad Bird veio da animação "desenhada" do sensacional O Gigante de Ferro, fez o melhor filme de ação recente com o digital Os Incríveis e agora, autor estabelecido, revela ao mundo que "rato" e "bom gosto" podem caber numa frase só. Filme lindo. P.S.: O curta que passou antes, Quase Abduzido, é mais uma joinha da Pixar. Nota 9.

Falando em direção, ou na falta dela, como chineleiam esse Michael Bay! Motivos realmente não faltam, porém acho que depois de Transformers (2007) o povinho vai dar uma trégua pro moço. Só a seqüência final deve durar uns 35 minutos, é porrada em cima de porrada, uma overdose de megaquaquicibéis mas com um certo charmezinho Spielberg anos 80, tipo A Casa Monstro em live action. Tá, bem menos, afinal, é só o Michael Bay. Que mesmo com toda sua ojeriza pelo ser humano, os fotografa como ninguém. Vejamos esta Megan Fox: que lataria! Nota 7,5.

Saneamento Básico, O Filme (2007) é a comédia hilariante do ano, até então. A dancinha do Wagner Moura interpretando um ET, o Monstro do Fosso!, é de se molhar as calçolas. Posso estar viajando, mas Furtado me parece um John Hughes mais crescido. Humor de turma é com ele. Nota 8,5.

Traz uma sensação de vazio esse Não por Acaso (2007). Os atores estão no lugar, o roteiro está no lugar, os cenários idem, tem vida ali, sutileza. Mas falta, acho, um descontrole na direção, que é justamente o que o filme tenta pregar, que a gente anda muito controlado, muito apegado e acorrentado ao nosso meio e às tais "regras da sociedade". Desencana, Barcinski! Ainda assim, é cinema nacional na veia e eu nem sei do que é que eu tô reclamando. Se era essa a intenção do cara que fez Palíndromo, um dos nossos grandes curtas, quem sou eu pra me queixar? Nota 8.

- - -

E essas foram minhas sessões mais recentes em salas de cinema a 60 quilômetros de onde moro, com cada vez menos povo à minha volta e driblando o império das cópias dubladas. ...O inferno, já?
Vejo o Divx ali como uma ferramenta pra a) essas preciosidades asiáticas-européias que não chegam aqui - Takashi Miike é um soco na cara e um chute de fincão no saco; b) coisa velha - uns antigão do David Lynch, do Argento e do Romero também são bem-vindos, essas podreiras de Toxic Avenger e Cannibal Holocaust, que loucuuuura aquilo; c) as baboseiras de plástico que me cansam a beleza e não fazem valer o ingresso salgado - Jack Sparrow, Quarteto Fantástico com o mesmo diretor merda-seca... E era isso. Deus me livre ver Death Proof no computador.
Cara, morreu o BERGMAN.
O Antonioni já tinha ido há anos. Só vi dois dele. Blow-Up traz tudo de bom e de ruim que só um porre consegue proporcionar. Zabriskie Point, eu gosto bem mais e matei aula do cursinho pra ver de tarde na TNT. Massa, aquela casa explodindo com Pink Floyd de fundo. Preciso de TV a cabo.
E fechou o Cine Figueiras e eu nem falei nada, e eu vi lá Babe, um Porquinho na Cidade e O Senhor dos Anéis e O Informante e Beleza Americana e Sin City, e agora só existe o Cine Dunas lá longe, e eu me arrependo de não ter ido mais lá, e eu vou parar senão eu choro de novo.

No fone: Lasciva Lula - Miolos

5/16/2007

I'm back FROM the future!


Bem, inimigos da Rede Globo, agora em definitivo para acompanhar as emoções de Homem-Aranha 3 (2007) em...

sete pontos negativos
- a tão malfadada franjinha emo
- Octopus 1 x 0 Homem Areia/James Franco/Venom
- ação menos intensa (incluindo aí a má direção de alguns atores, sr. Raimi)
- efeitos ainda legais, mas já dava pra exigir perfeição
- trocaram "Pega eles, Tigrão" por um "Peter, como você é nerd"
- os três ou quatro finais querendo se equivaler a O Senhor dos Anéis em relevância
- James Franco

...e sete positivos
- meu super-herói preferido, pô! Só perde para a maravilhosamente desmiolada besta-fera que é o Hulk (em breve o 2, com Edward Norton e Tim Roth!!)
- ação mais extensa (pena que a cena mais agitada ficou no início, aquela que acaba com o James Franco dando de testa no chão)
- o ingresso de oscarizáveis em cena (Thomas Sideways Church e James Cromwell)
- Bryce Dallas Howard (uuhhh...)
- Kirsten Dunst? Claro
- o primeirão em carne-e-osso que o Gus viu no cinema (ser legendado era a condição!)
- ***SPOILER*** James Franco morre ***FIM DO SPOILER***

Fica com um 7 e tamos conversados. Algo me diz que agora o Sam Raimi volta a fazer umas coisas boas tipo Um Plano Simples. Nota 7.

Céus, não sei o que falar de Filhos da Esperança (2006). Não sei mesmo. Nota 9,5.

Corri o mundo atrás de Eu, Você e Todos Nós (2005) e nada. Lojas, locadoras, revistarias, super, nem nos camelôs de Porto tinha! Eis que meu novo amigo Titi Piccoli, fotógrafo com cérebro lá do jornal, chega com uma cópia do DVD. Sabia que essa espera ia valer. Anote, pequeno gafanhoto: "Miranda July". Nota 9.

Outro que catei às ganha foi Crime Ferpeito (2005), ou "os cinco pila mais bem gastos que eu podia dar num DVD pirata". Espero que seja meu primeiro Alex De La Iglesia de muitos. Comédia das mais selvagens, literalmente. Daquelas poucas onde se diz "inacreditável" umas quantas vezes. Vejam, vejam, vejam. Nota 8,5.

Ken Watanabe vingou mesmo, que massa. Adoro o cara. Em Cartas de Iwo Jima (2006) ele vai te fazer torcer contra a americanada, com gosto ou à força. Olha que filme de guerra tem tudo pra ficar chato. O ponto favorável é esse mau tempo que a gente vive, onde se torna muito mais fácil desgostar dos ianques, mesmo que seja numa história que aconteceu há 70 anos. O coreano lá da Virginia que o diga. Lógico que não é preciso dizer que o grande herói aqui é Clint Eastwood, 76, o último dos durões, o homem dos três pulmões, e até rimou. Nota 8,5.

No filme-irmão A Conquista da Honra (2006) o Clint tenta, tenta, constrói umas cenas bem bonitas, uns planos da porradaria no front tão abertos e detalhados que não dá pra crer, coisa de Peter Jackson mesmo, mas a gente se deixa agarrar só lá pela meia hora final. Aí parece meio tarde pra reverter o jogo. Mas que meia hora! Nota 7,5.

Fuleiragem nos multiplexes! Não consigo tirar da cabeça a imagem de um casal de velhinhos, cabelo branco, pochete e tudo, se levantando da poltrona na cena em que o gordo Azamat enfia as bolas no bigodão do Borat (2006) num quarto de hotel. Sensacional. A última vez que eu tinha visto alguém abandonar a sala tinha sido em Sin City, por outros motivos. Palmas, palmas. Nota 8,5.

Claro que O Labirinto do Fauno (2006) dá um orgulho em todos nós, latinos. Mas já nos tempos de Blade 2 dava pra antever o sucesso de Guillermo Del Toro, diretor criativo nas cenas de ação e até que interessante nas mais intimistas, algo que se confirmou no ótimo Hellboy. Que continua o meu preferido dele. Quer dizer, ainda falta ver Cronos (1997)! Nota 8.

A crítica se dividiu, eu fico em cima do muro com Babel (2006). Dizem que o próximo Iñarritu vai ser um épico de 220 minutos sobre os efeitos que um puxar de descarga no Pólo Sul terá sobre a Groenlândia e a ilha de Timbuktu. Nota 7.

Não foi com A Rainha (2006) que Stephen Frears voltou ao poderio de The Grifters ou Ligações Perigosas. Não culpem Helen Mirren, gigante, divina, arretada da peste, pela overdose de badalação. Como está, é um notável filme de atriz - com insistente pianinho do Supercine ao fundo. Nota 7.

Sim, aquele papo de que rolavam umas risadas involuntárias durante 300 (2007) era sério. Gerard Butler fica latindo o tempo inteiro, meio "que horas são, Gerard Butler?", "CINCOOOOO PRAAAAS QUAAAAAAAAAATRRRRROOOOOOOO!!!!!". Afetadíssimo. Menos mal que sangue respingando com classe é sempre cool. Nota 7,5.

Vai achando que é papinho oportunista, mas minha mãe, por exemplo, lembra que um dos heróis favoritos de toda minha infância foi o Motoqueiro Fantasma (2007). O personagem - uma caveira flamejante que cagava a pau a torto e a direito, deixando um rastro de fogo com sua Harley envenenada - aparecia na segunda metade do gibi do Hulk, entre as aventuras do Cavaleiro da Lua (outro visual marcante) e do robô Rom (um chato, diga-se). Os traços tinham uma atmosfera muito deprê, tudo escurão. Alguns quadros pareciam o mais enfumaçado e intimidante cenário do mais assustador desenho de mistério do Scooby-Doo. E aí chega o Nicolas Cage se dizendo o maior admirador do personagem e comete uma aventurinha que não machuca ninguém, colorida, com direito a mastigação de jujubas, vilões saídos de uma sessão de fotos do Evanescence e uma trilha tipo Robert Rodriguez depois da décima quinta tequila. Uma bosta completa não é (nada supera a ruindade de Quarteto Fantástico ou Demolidor), mas se tivessem levado a coisa a sério podiam ter deixado a coisa do nível dum Hellboy ou Darkman. Nota 6,5.

À Procura da Felicidade (2006) é o filme mais corajoso do ano. Corajoso pela cara-de-pau em insistir nos clichês mais vergonhosos, por forçar a barra em pretensas cenas "de Oscar", corajoso por escancarar uma "miséria" que milhões de brasileiros dariam um braço pra vivenciar. Há quem torça e se emocione, mas, pra mim, melodramas (lá vem o pleonasmo) edificantes e chorosos já deram o que tinham que dar. Fácil de assistir? Até é. Mas não vale um terço dos dez pila que deixei na bilheteria. "Ah, mas o Will Smith não ta bem?" Zzzzzz... Nota 5,5.

Uma Noite no Museu (2006) vai fazer bonito na Temperatura Máxima. Será que Dick van Dyke e Mickey Rooney güentam até lá? Nota 7,5.

Will Ferrell ganhou mais um fã. Molhei as calças em O Âncora e quase cheguei lá com esse Talladega Nights, que por aqui ganhou o impronunciável título Ricky Bobby - A Toda Velocidade (2006) Se o cara sozinho já é um assombro, tente visualizá-lo contracenando com Sacha Baron Cohen, seu arquiinimigo. É mais ou menos como Steve Martin vs. Peter Sellers. Nota 7,5.

A empolgação com o Will Ferrell foi tanta que lá tava eu alugando Um Duende em Nova York (2003). O homem é foda a ponto de não te levar a vomitar ao ouvir as palavras "filme infantil de Natal". Nota 7.

Levou tempo A Fonte da Vida (2006). Vergonhoso que ninguém aqui no sul do Sul se dispusesse a exibir o tão falado filme de Aronofsky. Gosto muito de Pi e Réquiem para um Sonho, contei os dias pra sair o DVD, mas a impressão final é que o diretor gosta mesmo é de complicar. O visual é afudê, enredo até emociona e o Wolverine sabe mesmo atuar. Precisava encher tanta lingüiça? Nota 7,5.

Dos subgêneros mais ducaralho que pintaram por aí, o gore terror é espetáculo para bem poucos. Por que levar a sério certas expressões artísticas e outras não? Criatividade é o que não falta nessas pequenas jóias, nem humor ou cara-dura. Evil Dead, Fome Animal... Triste é a escassez; quem entra no clima logo se emputece em saber que aquilo ali, quase ninguém sabe fazer. Se o nível de imaginação dessa gente é regado a substâncias ilícitas eu não sei - talvez vendo aqueles rostos acabados do John Carpenter ou do célebre maquiador Tom Savini (que tá em Grindhouse!) dê pra chutar o que as equipes costumam usar... Mas meu amigo, quando um gore é bem feito, é bem feito MESMO. CGI nenhum reproduz o impacto de um efeito 100% artesanal. O papo aí é só pra dizer que finalmente acabo de pôr as mãos em Re-Animator (1985). Não vi na época e nunca saiu em DVD, então acabei pegando o meu tapa-olho e já sabes.
Pra quem não lembra, esse é o filme que Kevin Spacey pede emprestado ao vizinho em Beleza Americana, "aquele em que a cabeça decapitada faz sexo oral na mina". Aos 22 aninhos, essa deliciosa bobagem do diretor Stuart Gordon ainda diverte bastante com suas grosserias. Quando se acha que já mostraram de tudo, os caras provam não enxergar limites na podridão. É decapitação a pazada pra cá, gato morto no frigobar pra lá, o Jeffrey Combs rivalizando com Bruce Campbell como o melhor ator ruim da história e o final, um deus-nos-acuda que acaba no elevador ensangüentado e um bracinho se mexendo. Produçãozinha ordinária, custou uns 10 mil dólares, mas na real só bastavam três ou quatro cenários e uns baldes de sangue falso pra coisa dar certo. Um caso à parte é a trilha, nada menos que o tema de Psicose com um fundinho de bateria programada, tri anos 80! Para ver, ou baixando ou me pedindo uma cópia. Nota 8.

Obrigado a entrar numa fase de filmezinho infantil, eu digo: não é ruim A Menina e o Porquinho (2006). Quem não se desmanchava em lágrimas quando a Charlotte morria no desenho aquele que passava na Bandeirantes, pouco antes do Fofão? (ganha uma bala-banda quem lembrar) Esta adaptação, por mais que seja parecida com o porco Babe, não tem aquele odor desagradável que se podia esperar. Os bichos são simpáticos e a Dakota Fanning, além de aparecer pouco, ainda usa All Star. Os não-pais, já foram ver O Retorno dos Malditos ou O Baixio das Bestas? Nota 7.

Gostei de ver que o Cine Dunas tá resgatando outro hábito dos cinemas antigos daqui: deixar rolando um disco antes da sessão. Quando fui lá ver O Último Rei da Escócia (2006), "Woman", do John Lennon inundava a sala, e depois começaram uns covers dos Beatles. Céus, isso era a cara do Sete de Setembro! Foi lá que vi pela primeira vez o puta rosto do Forest Whitaker, em Traídos pelo Desejo, pelos idos de 1993, onde ele roubava a cena até encapuzado. Aquele carão nasceu pra ser projetado numa tela gigante. Escócia foi mais um Oscar tardio, sim, mas esse prêmio tinha que sair. O homem é fera. Nota 7,5.

Não sei quem foi que disse que Pecados Íntimos (2006) seria esquecido tão rápido quanto Entre Quatro Paredes (2001), filme que consagrou o diretor Todd Field. Não acho. É ainda melhor que a (boa) estréia dele, tem um elencaço - esse Jackie Earle Haley é um assombro! - e não fosse o clímax meio bobalhão, daqueles onde tudo resolve se encaixar na mesma hora, dava pra chamar Field de grande. Nota 8.

No fone: Móveis Coloniais de Acaju - "Aluga-se-vende"

2/25/2007

Dia D



"D" de... dá-lhe.

No fone: Joanna Newsom - "The Book of Right-On"

1/22/2007

Postzão - Parte II


Fico abismado com o Almodóvar. De Carne Trêmula até Volver (2006), todos os seus filhinhos são lindos de morrer. O modo como ele consegue isentá-los de moralismos é objeto de estudo por qualquer um desses roteiristinhas espertos de Hollywood. Cada crime é imediatamente perdoado pelo público, que se torna cúmplice das personagens. Porque elas são queridas, queridas até não mais poder. Não há cineasta no mundo que filme tão bem as mulheres. Ele passa a mão na cabeça delas, leva pra passear, compra presentinho, alimenta, dá banho e põe pra nanar. Um paizão. Penélope que o diga! Nota 9.

Venho de uma geração que aprendeu a amar o cinema americano graças a diretores como Coppola, Spielberg, Scorsese, David Lynch. Por isso mesmo, me esforço horrores e não consigo enxergar em Os Infiltrados (2006) o filmaço-machão-ultra-do-caralho pelo qual cruzei os dedos. Era pra ser o retorno do nosso Marty ao mundo do crime, com o auxílio do superelenco dos sonhos de qualquer um. Mas até O Aviador me pareceu mais sofisticado, satisfatório, uniforme. Conflitos Internos, o original chinês, também. Óbvio que o cabeção instalado na minha frente durante TODA a sessão muito contribuiu para a decepção. E acreditem, me dói um bocado usar "Scorsese" e "decepção" na mesma frase. Se bem que... E o Jack de altos papos enquanto segura uma mão decepada? E todos aqueles 300 raivosos "fucks" ditos ao longo da projeção? E aquele final sequíssimo e sangrento a um só tempo? O grande erro de Scorsese parece ser mesmo a idade - só não queiram compará-lo ao picareta que virou, por exemplo, o Coppola. Nota 8.

O Grande Truque (2006) é a pipoca pensante que Christopher Nolan nos devia desde Amnésia. Batman Begins não me enganou, Insônia não foi tudo isso. Já este foi BEM bonzinho. Quando será que teremos outra chance de ver Mr. David Bowie numa telona de cinema, hã? Nota 8.

Existe uma regra do cinema de ação que é a seguinte: jamais deixe a cena mais empolgante pro início. A seqüência que abre Cassino Royale (2006) prometia redefinir o cinema de ação. Mas Martin Campbell põe tudo por água abaixo ao ambientar quase todo o filme dentro da jogatina. Confesso que não entendo lhufas de carteado, e nem faço questão. É um mistério como os produtores da série 007 chegaram tão longe com a franquia. Diferente de Missão: Impossível e dos Jason Bourne, que se superam ao escolher quem vai dirigir suas aventuras, os caras só me contratam cabeças-de-bagre. Daniel Craig é um baita Bond, mas chamar Campbell de cineasta é forçar a barra. O homem é um pau mandado, um peão com uma câmera na mão e poucas idéias na cabeça. Não dá para discordar que filme de 007 é divertido mesmo quando cansa, mas eu queria era porrada. Fazer o quê. Nota 7.

Na contramão do Bond, Adrenalina (2006) entrega o nível já em seu cartaz: "acesse o site e concorra a um Playstation 2". Parece Comando para Matar com câmeras modernetes. É ação assumida e sem-vergonha, uma pauleirinha MTV curiosamente bem dosada e politicamente incorretíssima (só tem filho da puta em cena; Statham cheira todas, dá pau na Brigada e ainda chama um imigrante de Al-Qaeda). Nunca um título foi tão adequado. Nota 7.

O Diabo Veste Prada (2006) foi eleito um dos dez melhores longas do ano pelo National Board of Review. Tirando o mau gosto, taí a melhor piada do filme. Nota 6,5.

Some Alan Arkin, e Pequena Miss Sunshine (2006) perde boa parte de sua graça. Mas a sensação de ouvir os acordes de "Chicago", de Sufjan Stevens, no volume máximo a bordo de uma Kombi amarela com tanta gente legal é uma dessas mágicas que o cinema ainda permite. Nota 8.

Falta nonsense a Por Água Abaixo (2006). Fosse mais maluquete, teríamos uma grande animação aí. Nota 7,5.

Memórias de um Assassino (2004) representa uma espécie de cinema que os americanos um dia souberam fazer direitinho. O thriller coreano dá uma refrescada legal no gênero, até porque ele ignora a desgastada fórmula do suspense policial ianque, aqueles em que a gente não consegue entender como é que o Denzel Washington chega até a casa do criminoso com tão poucas pistas. No interior da Coréia do Sul, dois policiais violentos não conseguem solucionar um caso de serial killer. A bananice é tamanha, que faz com que eles recebam o auxílio de um investigador da capital. Este passa a mudar sua personalidade pacífica conforme mais corpos vão surgindo e o criminoso permanece incógnito. Enquanto isso a violência policial come solta, com direito a voadoras no pescoço de meia-dúzia de suspeitos e uma série de torturas realistas. Tenso, envolvente e às vezes assustador, é praticamente um Seven em ritmo de filme de arte, para mostrar (ou lembrar) a Hollywood como se faz. Corre para a locadora, pombas. Nota 8,5.

Christine - O Carro Assassino (1983) tem um subtítulo estraga-prazeres que ainda apavora muita gente. Não conta o fato dele ser dirigido por John Carpenter e adaptado de um livro de Stephen King? Podem até dizer que o enredo não tem a profundidade dum Crash da vida (tô falando no do Cronenberg), mas que rende uma boa discussão sobre o relacionamento sexual homem-máquina, isso rende. E algumas cenas são de foder de tão bem filmadas, coisa para se analisar em faculdades de Cinema. No papel do punheteiro apaixonado por um Plymouth 1958 vermelho está Keith Gordon (Vestida para Matar, All That Jazz), espécie de Cillian Murphy de 1980 e poucos. Ele virou diretor razoável de uns anos para cá, Noites Calmas e Crimes de um Detetive são dele. Nota 7,5.

E se você, menina-moça, desse de cara com um pedófilo após marcar um encontro pelo MSN? O suspense indie Menina Má.com (2005) aborda a delicada questão, mas vai muito além do habitual jogo de gato-e-rato que a gente vê todo dia. O espectador, depois de submetido a duas horas de violência, segredos e reviravoltas, chega a um ponto em que não sabe distinguir o vilão do mocinho. Esta é apenas uma das qualidades da estréia do diretor David Slade. Aos incautos, bom alertar que a violência é 18 anos; tem uma seqüência envolvendo uma faca e um saco de gelo que não vai sair tão cedo da cabeça de muita gente, particularmente do público masculino. É uma das grandes cenas de Ellen Page, uma mini-Suzane Richthofen que atua como gente grande e consegue o que muita atriz veterana jamais aprendeu: falar com os olhos. Claro que nem tudo é perfeito, há alguma forçação de barra e o roteiro encontra umas pedrinhas aqui e ali. Ainda assim, um produto muito mais inteligente que seu bisonho título brasileiro poderia supor ("hard candy" é uma gíria gringa para "ninfetinha"). Nota 7,5.

Nunca tinha me acontecido isso. Estava eu largadão no sofá de dois lugares lá de casa, vendo o tão sonhado DVDzinho de Caché (2005), tipo raro que exige da gente, nos respeita e enaltece o intelecto. Pois é nesse ambiente caseiro e solitário que se encontrava este que vos fala, longe da família e deitado com as pernas espichadas, imerso por completo naquelas imagens hipnóticas, fodidaaaaaças, e aí acontece uma coisa no filme que me faz saltar e sentar no braço do sofá com os olhos arregalados e o coração a milaço. A surpresa é total. Cena seca, socão na boca do estômago, disparado a melhor do ano. Aproveite bem a sessão, porque é perda de tempo tentar antecipar as verdades da trama. Certamente tu vais errar. Haneke é gênio sim, e quem discorda que vá sentar numa jaca. Nota 9,5.

Tudo pela Fama (2005) tinha tudo para ser uma comédia legalzinha: a dupla de Um Grande Garoto (Hugh Grant e o diretor Paul Weitz) a serviço de uma trama que tira sarro da política norte-americana e desses programas de calouros que eu abomino com todas as minhas forças, tipo "Fama" ou "Ídolos". Mas tudo é tão forçado, os personagens são tão pé-no-saco, muita piada fica só na intenção, que os bocejos são inveitáveis. A história é centrada na crise nervosa que abate o presidente americano (Quaid, no papel que é um alter-ego de Bush). Para reanimá-lo e fazê-lo voltar aos trilhos, seu assessor o escala como um dos jurados do reality-show mais visto da América, apresentado por Grant. Entre os concorrentes ao título de nova estrela pop, estão uma jovem caipira maluquete e um árabe com planos terroristas. Não é um desastre completo, mas deixa a sensação de que podia ter rendido bem mais. Badly Drawn Boy também fez falta na trilha, por sinal uma bosta. Nota 5,5.

Em Premonição 3 (2006), a única cena de morte que se salva é a das duas patricinhas fazendo bronzeamento artificial ao som de "Love Rollercoaster". Tirando isso temos um festival de bocejos pra ninguém botar defeito, sem o suspense do primeiro ou o gore do segundo. O que mais me deixa apreensivo é a boa bilheteria, que deve dar sinal verde pruma nova seqüência. Nota 5.

Em sua estréia atrás das câmeras, o eterno futuro astro Andy Garcia jogou um material riquíssimo direto na latrina. A Cidade Perdida (2005) do título é a Havana dos anos 50, onde proprietário de um famoso clube noturno tem de conviver com a revolução cubana até seu exílio nos EUA. O problema é que Garcia é um cineasta capenga; são ridículas as suas tentativas de imprimir ares épicos numa historinha tão enredada quanto mal conduzida. O jeito com que ele mostra Che Guevara é ridiculamente caricatural, pra não dizer pior. Garcia ainda consegue coisas impensáveis, como tornar Bill Murray um ator desagradável e dar a Dustin Hoffman apenas cinco minutos em cena! Isso que o filme tem mais de duas horas e vinte... O que fica é uma propaganda anti-Fidel com seridade histórica nula e que não deve ter agradado nem aos cubanos de Miami. Que venha logo o Che de Steven Soderbergh, este sim, um diretor que sabe o que faz. Nota 4.

Quanta má vontade todas essas críticas negativas a Estrela Solitária (2005). Certamente é um Wim Wenders menor, mas não tão pequeninho assim. Nota 6,5.

Acostumado àqueles documentários fofinhos da National Geographic em que zebras, elefantes, leõezinhos e o homem convivem numa nice, em pleno estado de espírito? Pois sua visão do mundo selvagem está a um passo de mudar. Antes que alguém pense que O Homem-Urso (2005) é o novo super-herói da parada, é bom esclarecer que ele também é um documentário. Dos mais realistas. Na verdade, um incômodo e fascinante retrato de uma tragédia. O objeto de estudo do veterano diretor Werner Herzog é o seguinte: em outubro de 2003, o ativista norte-americano Timothy Treadwell, que durante 13 verões manteve o hábito de acampar em uma reserva florestal do Alasca habitada por ursos pardos a fim de “protegê-los”, foi morto e devorado, ao lado da namorada, por um dos animais aos quais devotava sua vida. A trajetória de Treadwell é narrada a partir das fitas de vídeo que o próprio gravou no Alasca (mais de 500 horas de material). O longa é complementado por entrevistas de pessoas que eram próximas ao ecologista; aos poucos descobre-se que ele era ator frustrado, alcoólatra e sobrevivente de uma overdose, para muitos um louco. Daí sua opção pelo isolamento. O interesse do diretor não é pela questão ecológica da coisa, e que bom para nós. Não perca, por favor. Nota 8.

Ser um pai em férias é se sujeitar a ver Dumbo (1942) duas vezes num mesmo dia. Ninguém reclamou. Nota 10.

A Dama e o Vagabundo (1955) também. Nota 10.

E Branca de Neve e os Sete Anões (1937). Nota 10.

E Peter Pan (1950). Nota 10.

E Os Sem-Floresta (2006). Nota 7,5.

E Carros (2006). Nota 8.

E Pinóquio (1940). E que filme. Os relógios artesanais do Gepeto, a primeira aparição da Fada Madrinha, Pinóquio sendo engolido pela baleia, as crianças fumando no parque de diversões e depois se transformando em burros... É muito para minha cabeça. Ainda o meu Disney preferido. Nota 10.

Faster, Pussycat! Kill! Kill! (1965) é um desses cults B que só vêem a luz do dia anos depois. A estrela principal deste clássico da bizarrice fílmica é uma tal Tura Satana, que colhe os dividendos até hoje pelo papel da stripper karateca Varla. Ela faz questão de mostrar mais suas curvas do que a própria capacidade de atuar. Bom mesmo é o filme, a marginália em estado bruto, destruindo com estereótipos do american-way-of-life de maneira exemplar. Para o falecido diretor Russ Meyer, os homens são vítimas e as mulheres, perversas e perigosas, comandam. Depois de redescoberto por Tarantino, que pendurou pôsteres da produção nos sets de Pulp Fiction, Faster, Pussycat passou a figurar como um dos mais procurados no Emule, Kazaa e similares, teve sua canção-tema regravada pelos Cramps, até foi satirizado pelos Simpsons. Por incrível que pareça, a fita nunca foi distribuída no Brasil. Deve ter sido até melhor... imagine só a tradução! Nota 8,5.

Steve Martin tem um estilo único de humor. Sua atuação em O Panaca (1979) foi lembrada entre as 100 melhores da história por uma recente pesquisa da revista Premiere. Quem vê o filme sabe que a votação não foi exagero. Nota 7,5.

Isabelle Adjani, linda de morrer e uma atriz que sempre interessa, é um desses presentes dos deuses do cinema. Sua grande cena em Possessão (1981, filme que lhe deu o prêmio de atriz em Cannes) acontece numa estação de metrô completamente vazia e escura. Num plano-seqüência magistral, a câmera acompanha o ápice da crise de sua personagem, que inclui espasmos e boas doses de sangue misturando-se ao vômito esbranquiçado da moça. O filme do polonês Andrzej Zulawski é demente como um bom Cronenberg. Tem terror, arte, drama, surrealismo. Tem Muro de Berlim, Sam Neill ainda usando fraldas, criaturas nojentésimas criadas pelo mesmo Carlo Rambaldi de Alien e E.T. Possession causou furor nos festivais de cinema mundo afora (também venceu o prêmio da crítica na Mostra de São Paulo) ao abordar a estranha relação adúltera de uma dona de casa com uma criatura horrenda. São duas horas que parecem se arrastar, e ainda um final deprimente que não entendi até agora. Fortíssimo. Nota 7,5.

Assombração foi uma das sessões bizarras de 2006. Começa como um terror oriental com meninas cabeludas, elevadores e telefonemas com gemidos roucos, e depois descamba para uma fantasia ao melhor estilo Myiazaki-História Sem Fim. Legalzinho, tem visual bem cuidado e boas sacadas de roteiro. Nada memorável, pois. Nota 6.

9 Canções (2004) tem sexo e rock'n'roll saindo pelos tubos. As drogas ficam a cargo do espectador. Nota 6,5.

"Spoofs" são aquele tipo de comédia escrachada que tira um sarro em cima de filmes famosos, como Todo Mundo em Pânico. Foi deste filme que reuniram os roteiristas para, de olho nas gordas bilheterias, realizar um novo festival de bobagens. Uma Comédia Nada Romântica (2006), entretanto, não contém um décimo das gargalhadas de qualquer capítulo da série que deu novo fôlego ao besteirol. As piadas são mais rasteiras e estúpidas que qualquer quadro da Praça É Nossa, e o nível de aberrações ultrapassa o limite do tolerável. A não ser que você ache graça em ver uma mulher balançando os peitos até caírem para as costas, um sujeito colhendo sêmen para ter a aprovação do sogro, um outro com oito mamilos, gatos cagando na privada... Quer dar umas boas risadas? Fique com o Lasier tomando choque no YouTube ("aqui do lado, Pederneiras"). Nota 2.

Se o leitor não esteve em Marte nas últimas semanas, deve ter ouvido falar de um filme americano chamado Turistas. Ele vem causando polêmica por tratar o Brasil como um país maléfico, com uma selva em cada esquina e um forte esquema de mercado negro de órgãos. Mas não é que outras produções recentes nos zoaram até o fim e ninguém deu bola? Caso de 12 Horas Até o Amanhecer (2005), que reuniu elenco internacional em São Paulo para contar uma chocha e estereotipada história policial. Na trama, pai e filho nova-iorquinos donos de um bordel na Boca do Lixo se vêem às voltas de traficantes africanos e uma maleta de cocaína. O submundo paulista é retratado da forma mais ridícula possível, com direito a policiais bobocas e videntes que não erram uma. O elenco também não ajuda: depois de uma seqüência de bons papéis, Brendan Fraser nos lembra que pode ser o pior ator da Terra; a cena em que o Nachtergaele (que faz um travesti) leva chumbo no meio da rua é tragicômica; até Márcio Garcia aparece do nada, como um barman. Para coroar o "programão", o português falado pelos gringos é uma vergonha. Veto neles! Nota 3,5.

Revi Donnie Darko (2001). Cresceu muito desde que o vi pela primeira vez. Nota 9.

Doente mesmo é Escravas da Vaidade (2005). É de surpreender a elegância com que o diretor de Hong Kong Fruit Chan aborda um tema dos mais escabrosos: o canibalismo. Para reconquistar o corpinho sarado e conseqüentemente a atenção do marido, uma atriz veterana recorre aos serviços de uma espécie de curandeira que tem um segredo culinário de rejuvenescimento. Ela faz bolinhos utilizando como ingrediente... fetos humanos! Não se preocupe, que tudo (bem...quase tudo) é feito de forma sutil e com uma leve pitada de humor negro. E as duas atrizes são muito boas. Nota 7,5.

A idéia de Bandidas (2006) não era tão ruim: convocar as duas latinas mais calientes de Hollywood para estrelar uma comédia ambientada no Velho Oeste. Infelizmente, de quente o filme só tem a dupla central e o cenário árido da Cidade do México, onde elas encarnam assaltantes de banco. Porque nada mais se salva entre os escombros dessa verdadeira bomba. As piadas são primárias, com direito a gente conversando com animais, piruetas mais fake que todo As Panteras Detonando, e Salma e Penélope em briguinhas infantis, arrancando-se os cabelos e tudo. Do inexistente timing cômico às atuações medíocres de cada integrante do elenco, passando pelos cenários de Beto Carrero World, dá para ver que os diretores nada manjam de cinema. Há bigodes falsos e roupas idem que fariam bonito num daqueles filmes 80's dos Trapalhões. A trilha sonora faz um esforço danado em homenagear os westerns das antigas, mas acaba soando no mínimo ridícula. Se o trailer já assustava, vendo a obra pronta o fedor é insuportável. Corre, muchacho! Nota 3.

A Identidade Bourne (2002) na Tela Quente. Por que não? Nota 7,5.

Tudo que é demais enjoa. No Todo Mundo em Pânico 4 (2006) as piadas já não fazem rir tanto. Os Scary Movies são como os livrinhos Onde Está Wally?, em que o espectador fica tentando achar qual filme está sendo gozado desta vez. Já vamos adiantando alguns deles: Guerra dos Mundos, O Grito, Menina de Ouro, Jogos Mortais, A Vila e O Segredo de Brokeback Mountain. Você vai rir, claro, mas sabe que já viu muito melhor. De novo a direção ficou por conta de David Zucker - cineasta e roteirista responsável por algumas das comédias mais populares dos anos 80, como Corra que a Polícia Vem Aí e Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu. Pena que o véio anda meio enferrujado. Nota 5,5.

Demi Moore jurava de pé junto que daria a volta por cima com o já citado ali em cima As Panteras Detonando. Ressurgiu mais linda que nunca, saradona, bronzeada e necessária, depois de anos ausente da telona. O filme acabou sendo esquecido rapidinho, e a ex de Bruce Willis foi na carona. Protegida por um Anjo (2006), um suspense de quinta, nem chegou a ser lançado nos cinemas dos EUA, indo direto para o DVD. Os americanos fizeram muito bem. Demi continua muito boa (não como atriz, claro), mas a fita é um arremedo de várias idéias vistas em outros filmes. Os cenários são legais, exibindo praias solitárias onde há muito vento, chuva e cavalos selvagens. É para esse ambiente que vai uma escritora vítima de um trauma pessoal, o filho pequeno que morre afogado. Ela tenta completar um novo livro e passa a se interessar pelo rapaz que cuida do farol, até que... Bem, espere quando passar no Supercine. Nota 4,5.

No fone: Death Cab for Cutie - "What Sarah Said"

1/15/2007

Especial Fim de Ano

Início de 2007, hora de tentar entender o que aconteceu no ano que acabou também no cinema. Foram 264 filmes vistos nos últimos doze meses. Uns novos (sessões em tela grande foram só 26, que fiasco), outros nem tanto mas que tinham de dar as caras mais cedo ou mais tarde (Pi, Contra a Parede, Ghost World), reprises diversas (viva a Disney!) e tantos clássicos finalmente descobertos (Cantando na Chuva, O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, A Sangue Frio, Hair, The Killer, Morangos Silvestres).
Claro que perdi muita coisa. Fitas badaladas como O Labirinto do Fauno, O Céu de Suely, 2046, Fonte da Vida, A Dama na Água, A Última Noite, Filhos da Esperança e Eu, Você e Todos Nós não chegaram até mim, nem eu pude ir até elas. Fazer o quê.
Mas foi um baita ano, sem dúvida. Três fatores logo chamam atenção na relação abaixo, que traz os meus preferidos no ano. Em primeiro lugar, a grande presença de americanos (oito produções em dez), apenas dois europeus (Volver e Caché) e a completa ausência de filmes nacionais (como teve coisa ruim, hein?). Depois, a força dos veteranos: Spielberg, Scorsese, Almodóvar, Malick... 2006 foi mais dos mestres que das revelações. Por fim, a lista é marcada pela discussão de temas que ainda vão dar o que falar, seja o conflito Israel x Palestina (Munique), homossexualidade (Brokeback Mountain) ou a falta de ética no jornalismo (Boa Noite e Boa Sorte). Foram pequenas, mas significativas mudanças no cinema. Sobretudo no norte-americano: o grande vencedor do Oscar (Crash), por exemplo, promoveu um ataque frontal ao racismo.
Que venham discussões ainda mais acirradas, obras ainda mais provocantes. Porque o cinema, mais do que qualquer outra manifestação artística, permanece como o mais eficaz espelho da sociedade.

DEZ FILMES, DEZ CENAS


1. O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, EUA)
A explosão de Michelle Williams.

2. Caché (França)
Dois homens conversam. Um deles tira uma navalha do bolso e mostra à platéia o significado de "harakiri".


3. Munique (Munich, EUA)
Eric Bana ouve a voz da filha pela primeira vez, ao telefone, e tem uma crise de choro.


4. Volver (Espanha)
Penélope Cruz acaba de assassinar alguém na cozinha de casa. Eis que bate à porta seu vizinho. Ao perceber a orelha da moça suja de sangue, ele questiona o que houve. "Coisas de mulher", responde ela, na maior naturalidade.


5. Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, EUA)
O discurso final de David Strathairn, que todo jornalista deveria ter enquadrado na parede. Do ladinho do diploma.



6. Vôo United 93 (United 93, EUA)
A queda.


7. Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, EUA)
O ataque dos mutantes estupradores ao trailer, enquanto alguém lá fora é tostado vivo numa árvore.



8. O Novo Mundo
(The New World, EUA)
Colin Farrel e a indiazinha descobrem-se às margens de um riacho. Ele lhe passa as mãos nos cabelos, ela lhe entrega um punhado de conchinhas. Por que o cinema romântico não é sempre assim?


9. A Lula e a Baleia (The Squid and the Whale, EUA)
Em pleno 1986, um casal vai ao cinema e não sabe se assiste a Veludo Azul ou Short Circuit - O Incrível Robô.


10. Os Infiltrados (The Departed, EUA)
Jack Nicholson leva duas mulheres para a cama, joga um punhado de pó em cima de uma delas e dispara, com os olhos num brilhinho só: "Agora você só se levanta quando estiver dormente". Graaaaaaande Jack.


FALTOU LUGAR:

11. O Homem Urso (Grizzly Man, Alemanha)
12. Crime Delicado (Brasil)
13. Clube da Lua (Luna de Avellaneda, Argentina)
14. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, EUA)
15. Abismo do Medo (The Descent, Inglaterra)
16. Alta Tensão (Haute Tension, França)
17. Memórias de um Assassino (Memories of Murder/ Salinui Chueok, Coréia do Sul)
18. O Grande Truque (The Prestige, EUA)
19. Rejeitados pelo Diabo (The Devil's Rejects, EUA)
20. Carros (Cars, EUA)
21. Paradise Now (Palestina/França/Alemanha/ Holanda/Israel)
22. A Proposta (The Proposition, Austrália)
23. Medo (A Tale of Two Sisters, Coréia do Sul)
24. Dália Negra (Black Dahlia, EUA)
25. Pesadelo Mortal (Cigarette Burns, EUA)
26. Marcas do Terror (Imprint, EUA/Japão)
27. Saraband (Suécia)
28. Capote (EUA)
29. A Marcha dos Pingüins (Le Marche del Empereuer, França)
30. Hooligans (EUA/Inglaterra)

OS PIORES

1. Gatão de Meia Idade (Brasil): Uma vergonha esta adaptação das tirinhas de Miguel Paiva. Os ares são daquelas pornochanchadas com Nuno Leal Maia, e nenhuma piada é digna de um sorriso amarelo que seja. Pra piorar, todas as mulheres são tratadas como um rolo de papel higiênico. Dói no dente só de pensar.
2. Uma Comédia Nada Romântica (Scary Movie, EUA): Uma comédia nada engraçada.
3. Aeon Flux (EUA): Deus do céu, o que é aquela mulher com as pernas de curupira?
4. Ultravioleta (Ultraviolet, EUA): Aeon Flux - Parte II.
5. Edison - Poder e Corrupção (Edison, EUA): Kevin Spacey e Morgan Freeman coadjuvando Justin Timberlake? Contas atrasadas, só pode ser.
6. Doom (EUA): Mais artificial que qualquer jogo de Atari.
7. A Névoa (The Fog, EUA): Outro remake imbecil, incapaz de meter medo na criança mais impressionável.
8. Bandidas (EUA): Um neo-western estrelado por duas latinas que passam o tempo inteiro se puxando os cabelos? Não, obrigado.
9. Instinto Selvagem 2 (Basic Instinct II, EUA): Não precisava, né dona Sharon?
10. O Código Da Vinci (The Da Vinci Code, EUA): Um novo recorde para o Guinness: o melhor elenco a fazer parte de um filme ruim.

FALTOU LUGAR:

11. 12 Horas Até o Amanhecer
12. Caçadores de Mentes
13. A Máquina
14. As Loucuras de Dick e Jane
15. O Coronel e o Lobisomem
16. A Profecia
17. Crash - No Limite
18. Irma Vap - O Retorno
19. Oliver Twist
20. Tudo pela Fama

11/28/2006

Postzão - Parte I

Queridões, eis um primeiro balanço de minhas vacaciones:

Sua vida anda meio sem-graça? Não agüenta mais a mulher enchendo o saco, o chefe besta torrando a paciência, o time que sempre abre as pernas na reta final do campeonato? Pois seus problemas acabaram! Pegue ***alerta! tradução afasta incautos! alerta!*** Como Enlouquecer seu Chefe (1999) e transborde de felicidade. É nada mais, nada menos que a estréia de Mike Judge em celulóide, e olha, descrever o que o pai de Beavis & Butthead fez aqui não é fácil.
O ponto de partida é de uma Sessão da Tarde tipo Quero Ser Grande ou O Mentiroso: rapaz que trabalha numa firma de informática é vítima de um feitiço que o impede de se estressar. Ao contrário do filme do Jim Carrey, que se concentrava na relação pai-filho, o esquema aqui é espinafrar o sistema trabalhista. Logo que começa a falar umas verdades para seus empregadores sem se ligar, o maluco estranhamente cai nas graças deles com sua franqueza. O ritmo das piadas que seguem é insano. O estilo de humor atende a todos os gostos: tem sutileza, humor negro, sarcasmo, humor físico, incorreção política... Impossível não gargalhar, e olha que eu exijo muito de uma comédia. O que são aqueles diálogos, Jesus-Maria-e-José? Certo que ninguém da Academia conferiu, senão era Oscar de roteiro na certa.
Mais: tudo isso protagonizado por um time de atores que parece organizar um churras toda sexta à noite, tamanha a empatia entre eles. Office Space gruda na memória porque todos, eu disse todos os personagens são gozados e interessantes. O vizinho do protagonista, por exemplo, é um pedreiro cabeludo, preguiçoso, taradão e com voz de negão blueseiro, que ouve tudo por trás da parede - e faz questão de comunicar sempre que surge uma gostosa de biquíni na TV. Outras figurinhas são um árabe com tendências terroristas (mas baita cagão) e um hacker nerdzaço, daqueles que sabem tudo que é letra de rap, mas que fecham o vidro do carro sempre que pinta neguinho por perto. Nem a gostosa da Jennifer Aniston consegue embatumar o bolo, até porque aqui ela realiza o sonho de todos nós: esfregar o dedo médio na cara do chefe. Vi-o há quase dois meses, e desde então o filme só cresceu na minha cachola. Pode arriscar, que eu agarântio! Nota 9.

Legal que a carreira de Uma Thurman decolou depois de Kill Bill. Torço por essa guria. Não fosse Tarantino, a moça dos dedos compridos jamais conseguiria trampos de evidência em Terapia do Amor (2005) e Minha Super Ex-Namorada. Quer dizer então que tua tarefa agora é ressuscitar o Kurt Russell, hein, Quentin? Nota 6,5.

Fernando Meirelles anunciou que vai adaptar Saramago. Se depender desse currículo de ouro - Domésticas, Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel (2005) - vêm maravilhas por aí. Nota 9.

Quase nunca vou na prateleira do Romance, até porque os energúmenos lá da locadora acomodam ali Destino Insólito, Showbar e por aí vai. Quando vi Verão de 42 (1972), então, dei uma chance. Filmezinho bonito, rapaz. Nota 8.

Tenho simpatia por quase todos esses que fracassam na estréia e fazem sucesso bem depois, com o boca-a-boca. O Homem de Palha (1974) é um deles. Christopher Lee foi o Drácula em pessoa e mata a pau até hoje, mas aqui periga ter o seu grande papel. Falei que não tô a fim de ver a refilmagem? Nota 7,5.

Meio chato Orgulho e Preconceito (2005). Desta vez não teve Ang Lee nem Emma Thompson pra salvar, né, Mrs. Austen? Nota 6,5.

Agiota desonesto cria que nem cachorro, desde pequeno e de coleira e tudo, um japa no porão. Acreditem ou não, esta é a história de Cão de Briga (2005). Óbvio que não foi um plot desses que me atraiu, nem mesmo Jet Li, que sempre diverte. O fato é que o diretor é um tal Louis Leterrier... do novo Hulk! Cuida bem do verdão, cara. Tô nos teus bico! Nota 6,5.

O ano vai acabando e nos faz tirar algumas conclusões. Uma delas é o altamente bem-vindo revival do slash terror, por mãos de trintões que cresceram vendo muita VHS mofada em casa. Seres Rastejantes (2005) é o tipo de filme que eu teria orgulho em dizer que fiz. Quem roteiriza a belezinha é James Gunn, do muito-legal-mesmo Madrugada dos Mortos. O cara resolveu assumir a direção e coalha de referências esse Slither; todos os personagens têm nome ou sobrenome de lendas do gênero (Hooper, Carpenter, Romero) e muita cena é chupada de material alheio (Noite dos Arrepios, Alien, A Noite dos Mortos-Vivos). Outro presentão é a presença de Michael Rooker, um dos melhores atores B ever (quando é que chega Henry: Retrato de um Assassino em DVD?), numa atuação que vai do emotivo ao gore em questão de segundos. Diversão garantida, ou sua locação de volta. Nota 7,5.

Lá pela meia-hora de Despertar dos Mortos (1978), George Romero parece acordar pra vida e dizer “bem, vou fazer um filmaço!”. A partir daí o nível de sanguinolência, que já não era brincadeira, atinge níveis inimagináveis, com muitos closes de músculos e vísceras sendo arrancadas a dentadas e unhaços. Punk como a gente gosta. Amigo meu lá do jornal, do alto de seus 40 e poucos anos, veio dizer que na época que viu no cinema a galera ficou semanas sem comer carne... A trilha e os planos elegantes são coisa de um Kubrick ou Bergman (não, eu não estou exagerando) e os dublês também merecem aplausos (as crianças mortas-vivas convencem na hora que o pau come, um zumbi tem a tampa da cabeça arrancada pela ação de uma hélice de helicóptero, outro pobre-coitado leva um safanão e dá de cara numa moto... em movimento). Um sangrento superespetáculo. Nota 9.

Me criei vendo O Enigma de Outro Mundo (1982) na Sessão da Tarde, mas minhas poucas memórias dele eram muito gelo e a cabeça andando com perninhas de aranha. Como é que passavam todas aquelas nojeiras nesse horário? Nota 8,5.

Outro cráááássico da Sessão da Tarde foi Viagem Fantástica (1966). A cena final, em que os miniaturizados escapam de dentro do corpo através da lágrima do pobre-coitado, não dá pra esquecer. Nota 8.

Sabia que O Homem dos Olhos de Raio-X (1967) tinha Ray Milland no elenco e tal, só não lembrava que era do Roger Corman, o bisavô dos cineastas independentes. Só ele mesmo pra filmar aquele final incômodo e muito trash. Nota 8.

A grande atração de O Corvo (1963), tirando o embate Boris Karloff x Vincent Price, é um Jack Nicholson em vestes de soldado imperial e com cabelo esvoaçante. Mais um clássico de Corman. Nota 8.

Antes de virar o grande astro de ação dos sixties, Steve McQueen estrelou A Bolha (1958). Um canastrão, diga-se. O filme nasceu terror e virou comédia, e diverte por isso. Nota 7.

Ainda inédito em DVD e uma missão impossível para achar em fita de vídeo, Quadrilha de Sádicos (1977) perdeu um pouco do impacto original. Vi piratão mesmo, sem legendas e pela primeiríssima vez na vida. Posso estar falando bobagem, mas achei o remake melhor, mais tenso e bem escrito. Mesmo assim, Wes Craven em estado bruto é melhor que toda essa merda que tá aí. Nota 8.

Pânico na Montanha (2004) é mais um média-metragem da série Mestres do Terror, desta vez dirigido por um tal Don Coscarelli. Mestre ele não é. Nota 5,5.

Já Takashi Miike é sim, um mestre. Marcas do Terror (2004), sua contribuição para a série da HBO, teve a exibição vetada na última hora pela emissora americana. Acharam muito pesado pros padrões deles. Queriam o quê? Algo insosso, inodoro, indolor? Que contratassem a equipe de Jogos Mortais, pois! Imprint é o horror em sua forma mais pura e poderosa, com direito a uma cena de tortura niilista pra caralho, marcante, hipercinética. Por que é tão difícil que a filmografia desse cara chegue até nós? Nota 8.

O Novo Mundo (2005) é um dos melhores filmes do ano. Ponto. Nota 8,5.

Quem achou que Spike Lee fosse abandonar seus comentários sociais para dedicar-se à ação non-stop em O Plano Perfeito (2005), enganou-se. Uma cena resume bem isso, quando um refém sikh, de barba e turbante, ganha umas porradas da polícia - ao ser confundido com um árabe, ele desperta o receio de um ataque terrorista. É o toque pessoal de alguém que transforma o que poderia ser mais um thriller inócuo numa obra espirituosa. Nota 8.

Loiríssima, ameaçadora e quase sempre pelada em cena, Sharon Stone deve ter quebrado o recorde mundial em homenagens no banheiro depois de Instinto Selvagem. Agora, quase 15 anos se passaram e em IS2 (2006) Sharon já não tá assim-assim. Continua charmosa, mas o corpo é de quem pegou praia, botox e bisturi demais. Suas caras e bocas ultrapassam a fronteira do ridículo; parece atuar sempre à beira de uma gozada. Ainda trocaram Michael Douglas, um cara que poderia comer uma árvore (no mau sentido), praticamente o Zé Mayer deles, pelo inexpressivo David Morrissey. E se cinemão com cenas picantes virou clichê, nem isso o filme tem, com muito roteiro para pouco sexo. Os ares são de um Cine Privê de luxo, para ver apertando o forward no controle. Nota 5.

Não faço muita questão de me envolver com esses mistérios de Lost. Sou nerd o bastante para partir em busca de outros tipos de cultura inútil, algo que não me faça entrar em grupos de discussão com uma cambada de viciados em chips e cherry coke. A 1ª Temporada (2004) é legal, com todos seus altos e baixos. Vou continuar acompanhando, mas que é muita punheta, isso é! Nota 8.

Ultravioleta (2005). Aaaaaaaargh! Meus olhos, não consigo enxergar! Nota 3.

Atom Egoyan não exibe em Verdade Nua (2005) metade do talento mostrado em O Doce Amanhã. Será ele um enganador? Só o tempo dirá. Por outro lado... Kevin Bacon, sempre bem. Colin Firth, boas caras de tarado. Alison Lohman, apetitosa (já tem 18?). Nota 6.

Adorei A Lula e a Baleia (2005). Roteiro saboroso, dupla central despida de estrelismos (Laura Linney safaaaada, Jeff Daniels em luminoso momento Bill Murray), trilha bizarra. Um dos poucos filhotinhos de Wes Anderson que deram certo. Filmão. Nota 8,5.

Bonecas Russas (2005) dá seqüência às aventuras de O Albergue Espanhol. É cinema europeu jovem, sem grandes afetações ou aspirações. O original já não era grande coisa. Veja, se o tempo for seu amigo. Nota 7.

Só o fato de ambientar uma história de amor nos escombros da bomba atômica já daria a Hiroshima Mon Amour (1959) todo o nosso respeito. E o Resnais ainda vai lá e faz uma obra fodida de boa, cheia de símbolos e idas e vindas no tempo. Como muitos filmes de arte, jamais será inteiramente apreciado e entendido. Não consigo imaginar o público de Páginas da Vida assistindo isso. "Sensorial" é a palavra. E que fim deu Emanuelle Riva, hein? Grande atriz, a moça. Nota 8,5.

Michael Mann, um grande diretor à procura de um bom roteiro. Miami Vice (2006) entretém, empolga e ao mesmo tempo desaponta por não trazer mais sustância para nós, fãs de Coppola e Scorsese. Nota 7,5.

Vôo United 93 (2006) é trepidante do início ao fim. E que fim! O grande feito de Paul Greengrass foi mostrar que o heroísmo do vôo foi simplesmente entrar em pânico e tentar sobreviver. Ele põe a platéia no meio de toda aquela algazarra no avião e a faz enxergar a morte bem de pertinho. O mais eficaz simulador de vôo da história. Sabe quando a gente sai do cinema com as pernas bambas? Pois é. Nota 8,5.

Bem mais apelativo, As Torres Gêmeas (2006) tem coisas como Nicolas Cage gritando "rrrruuuuuuuunnnnnnn...!" em câmera lenta, marines obstinados vindo de longe para salvar os bombeiros, crianças e esposas se esvaindo em lágrimas e por aí vai. São cacoetes Rambo-Michael Bay que não combinam com o tema delicado. E menos ainda depois de Team America, né, seu Stone? Nota 7.

Desculpaí a heresia... mas tem dias que a gente não devia ir ao cinema. Entrei na Casa de Cultura com a certeza absoluta de que ia amar Cinema, Aspirinas e Urubus (2005). Não foi isso o que a noitada anterior permitiu. Pronto, já pode me bater. Nota 7,5.

Abismo do Medo (2005) vai me obrigar a seguir cada passo do diretor Neil Marshall (que já tinha feito bonito em Dog Soldiers). Terrorzinho fodido! Nota 8,5.

Raras vezes se viu um filme que dividisse tanto assim as opiniões quanto Dália Negra (2006). É um Brian De Palma exagerado como nunca. Com pelo menos duas cenas acima de qualquer crítica: a descoberta do cadáver e a morte de um dos personagens centrais na escadaria. De tirar o fôlego. Nota 8.

Todo Mundo Quase Morto (2004) tem humor e inteligência por todos os lados, personagens bem compostos, roteiro impecável e um desfecho capaz de levar o público ao delírio. É muito difícil exigir mais de um filme do que o que encontramos aqui. Mande uma banana pro título imbecil que Shaun of the Dead ganhou no Brasil, corra atrás e tenha aquele orgasmo múltiplo que você sempre sonhou. Ele é assim de bom. Comprei e vou ver todo ano. Quer, eu te empresto. Nota 9,5.

Míseros R$ 9,90 por Ghost World (2001) numa banca de revistas no centrão de Porto Alegre. Sorrindo até agora. Nota 8.

O ritmo de piadas de Friends é tão insano que me deixa extenuado. Estou certo que deixei de pescar algumas piadas ótimas da 4ª Temporada, porque tem uns episódios que fundem a cuca de tanta graça. Será seqüela? Nota 8,5.

Dá raiva ver subprodutos sem alma como Gatão de Meia-Idade (2005) ganhando espaço de luxo num circuito repleto de produções brasileiras interessantes que permanecem sem distribuidor, e que certamente teriam alcance igual ou bem maior que lixos como este. O enredo é baseado nos quadrinhos de Miguel Paiva e podia render algo divertido mas, oh Deus, não é isso o que a gente vê na tela. Alexandre Borges se esforça pra viver Cláudio, um quarentão solteiro e galinha que começa a sentir o peso da idade. Ri-se justamente da pior coisa que pode acontecer a uma comédia: a falta de graça. As situações são dignas daquelas pornochanchadas do Canal Brasil, com direito a nudez gratuita, uma trilha sonora insuportável e diálogos de uma patetice só. O pior filme de 2006 já tem nome - isso enquanto não sai o novo da Xuxa. Nota 2.

O Mestre da Guilhotina Voadora (1975) é daqueles que te fazem urrar de prazer de tão excêntricos. Podia ser rebatizado para A Batalha dos Inválidos ou algo do tipo... em que outro filme você vai ver o herói sem um braço saindo na porrada com um vilão que é cego? O roteiro praticamente não importa, cedendo espaço para as lutas absurdas. É gente caminhando pelas paredes, se equilibrando em pontas de espadas e espichando as mãos como o Dhalsim do game Street Fighter II. E foi daqui que Tarantino tirou a cena de Gogo e sua arma mortal, numa das cenas mais afudê de Kill Bill. Podreira das boas. Nota 8,5.

No fone: Grizzly Bear - "Easier"